Leidiane Rios, graduada em Letras Vernáculas pela Uneb (Coité), indignada com a prisão do Sr Raimundo na última sexta-feira (11), por estar vendendo leite em vasilhame pelas ruas de Riachão do Jacuipe, escreveu este imperdível texto para o Portal. Confira.
Avante, avante, Brasil... (um possível título)
A sociedade jacuipense e toda a região assistiram, ou melhor, acompanharam nos últimos dias, uma notícia terrível e ao mesmo tempo chocante: preso, acusado de vender leite “clandestinamente”, um senhor de nome Raimundo.
O senhor Raimundo transportava, até que se prove o contrário, seu vasilhame de leite quando foi surpreendido pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), o que foi suficiente para que tal senhor tivesse a prisão decretada.
Com todo respeito ao Ministério Público e aos demais órgãos (incluindo a ADAB), mas a sociedade jacuipense sofre e é ameaçada por tantas outras coisas de dimensão gigantesca, quando comparadas com o senhor Raimundo e o seu leite, lutando para que seja mantido o seu caráter reto, longe da corrupção.
Porém, como é triste e lamentável perceber que aqueles “conselhos” e ensinamentos adquiridos na infância e que são essenciais (será?) para o bom andamento das coisas, tais como: “seja cordial, verdadeiro, honesto, tenha compaixão”... estão se tornando cada dia mais difíceis de serem cumpridos, em função das incoerências pelas quais as pessoas honestas são vítimas.
Que as leis existem e precisam ser cumpridas, não é novidade alguma, porém, nunca é demais lembrar que algumas exigências precisam ser repensadas: antes de decretar a proibição da venda de leite em vasos, “clandestinamente”, é preciso oferecer condição para que os comerciantes desse ramo se “legalize”.
Nesse momento cabe, aqui, uma pergunta: o que está sendo feito com a arrecadação dos nossos impostos (e que arrecadação!!!). Qual destino está sendo dado? Essa resposta é tão óbvia, que me recuso a responder.
Os tempos são outros e ações como essas, da prisão de gente que trabalha, servem para nos alertar sobre uma nova ordem vivenciada pela sociedade contemporânea: a da inversão dos valores.
Os valores estão invertidos e os beneficiados, recuso-me a apontar, por questões também óbvias. Quem pode, ou quem tem o poder para fazer alguma coisa, infelizmente, mete os pés pelas mãos e acaba ocupando-se com coisas muito pequenas e sem relevância.
Mas tudo isso acaba sendo conta para outro rosário, pois a prisão do senhor Raimundo logo, logo será esquecida (nunca para ele!) e outros “Raimundos” serão igualmente punidos.
Agora, não me resta outra alternativa senão acreditar no que Caetano Veloso afirma na canção Fora de Ordem: “Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem Mundial”.
Por Leidiane Rios
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