Era meu propósito utilizar este espaço que gentilmente me disponibilizam para escrever crônicas cada vez mais leves e distantes dos problemas que por si mesmos alcançam as pessoas em seu dia a dia, de forma que quando os leitores abrissem uma página como esta, não precisassem se cansar mais do que já vivem cansados, muitos deles, porque a vida não é fácil para ninguém. Acontece que vivemos em uma cidade que não deve ser muito diferente das demais, mas talvez por vivermos aqui e conhecermos bem suas peculiaridades, às vezes temos a impressão de que se trata de uma das sociedades mais difíceis de se deixar impulsionar rumo ao desenvolvimento humano e social.
Um relatório da Rede de Avaliação e Capacitação para a Implantação dos Planos Diretores Participativos disponível na internet aponta que 35,2% de nossas habitações não têm acesso à rede de esgoto ou fossas sépticas e 11,8% dos domicílios estão situados em imóveis que não pertencem aos moradores, necessitando de regularização fundiária.
Estas são apenas algumas de nossas maiores demandas, mas talvez a maior delas mesmo seja dedicação de tempo à realização de exaustivas audiências públicas e encaminhamentos práticos capazes de colocar em funcionamento o Plano Diretor Urbano.
De acordo com uma importante publicação da Universidade Federal de Viçosa, MG, "O Plano Diretor é o instrumento básico da política de desenvolvimento do Município. Sua principal finalidade é orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural na oferta dos serviços públicos essenciais, visando assegurar melhores condições de vida para a população." Infelizmente, por aqui, como em muitos outros municípios, esse documento limita-se a um maço de papéis encadernados que repousam no fundo das gavetas da Câmara ou até já desapareceu.
Dificilmente cidadãos e cidadãs que precisam trabalhar para sobreviver terão tempo e disposição para dar a devida utilidade a este instrumento democrático. Por isso, cabe aos agentes públicos tomar uma atitude urgente, para que a cidade não seja governada segundo o que dá na teia de cada um que se senta naquele pequeno trono de onde autoriza remendos para velhos problemas que ressurgem maiores a cada ano.
Eu não penso que seja fácil governar um município como este e, precisamente por isso, este governo deveria ser distribuído com a própria municipalidade como, aliás, prevê a legislação, mas aqui o personalismo ainda fala muito alto e, enquanto alguns cantam de galo pelos palanques afora, o que salta aos olhos de todos é a desorganização e a falta de franqueza para colocar os problemas sobre a mesa de discussão e encontrar soluções coletivas. Pelo contrário, gravações vazadas na imprensa demonstram que a preocupação maior de certos gestores é com a própria carreira política. Interessante falar em "carreira", neste momento em que, no norte de África, estão botando maus políticos para correr.
http://riachao.com/modules.php?name=Colunistas&coluna=92
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