Tal e qual os morros do Rio de Janeiro, o bairro do Alto do Cruzeiro, em Riachão do Jacuípe, adquiriu a pecha do tráfico, da dependência química e da violência. Com tais atributos ressaltados por muitos, os moradores da área se tornaram alvo do preconceito de endereço, que não é mais um privilégio das cidades grandes, apenas.
Certa vez, um universitário que reside no bairro contou que, ao voltar da faculdade, à noite, foi abordado por um policial, que perguntou o que ele estava fazendo na rua. Ao responder que estava voltando da faculdade, o policial não acreditou na resposta do jovem, simplesmente porque não podia admitir que um morador do Alto do Cruzeiro, negro, pudesse cursar o nível superior.
Nos últimos dias, a violência recrudesceu naquela parte da cidade, sem a devida atenção da maioria das autoridades públicas locais e com os devidos alardes daqueles que se contentam em comentar com outros as cenas de horror. Possivelmente, todo o problema decorre de situações originadas fora do bairro, quem sabe até nas áreas mais nobres que se possa imaginar.
No Alto do Cruzeiro vivem trabalhadores dignos, gente que é exemplo, que sua a camisa para conquistar o pão e a moradia decente, mas que conhece e convive com outras pessoas tristemente afetadas pela praga das drogas lícitas e ilícitas. Por conhecer essas pessoas e, muitas vezes, por procurar ajudá-las, estes trabalhadores dignos, estes pais e mães de família são tidos como participantes do mesmo destino tortuoso com o qual se procura identificar o bairro, enquanto os verdadeiros responsáveis por tantos males permanecem distantes e livres para continuar a alimentar a fábrica de tanta violência e desolação.
Quando exerci o Mandato de Vereador, requeri ao Município e ao Estado uma política pública específica para o Alto do Cruzeiro. Não pedi repressão à violência, apenas, mas principalmente trabalho e renda para a população. Não houve resposta, não houve apoio e hoje escuto o apelo emocionado de uma professora que mora por lá e que pede providências, pois não é possível que, à luz do dia, ou num horário qualquer, tiroteios aconteçam em plena rua, como ocorreu nos últimos dias, podendo vitimar adultos e crianças que brincam nas calçadas.
É preciso começarmos a levar em conta que a cidade sofre, não apenas pelo consumo e pelo tráfico de entorpecentes, mas também e, quem sabe até, principalmente, pelo preconceito, pelas ideias fúteis, pela indiferença absurda em relação às causas de todo tipo de desordem.
Precisamos exigir segurança para o Alto do Cruzeiro, mas que antes se exija também respeito para com seus habitantes, evitando-se toda forma de comentário infeliz, preconceituoso, precipitado e sem fundamento, porque as causas dos problemas, ou pelo menos a omissão diante deles, partem do centro – O centro de decisões que muitas vezes decide mais por si mesmo e menos por um povo que já não agüenta mais tanta exposição ao perigo e tanta discriminação.
Repasse este manifesto como um grão de areia na vastidão de coisas que podem vir a ser feitas. Ao menos, já é um começo.
Paz para o Alto do Cruzeiro!
José Avelange, integrante da ONG Mobilizadores Sociais.
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